Blog da Vivian Whiteman

Carta aos novos jornalistas de moda (ou fashionistas, estudai!)

Vivian Whiteman

Dar aulas, pra mim, é um grande prazer. Mais do que isso, é a oportunidade de dar às pessoas que se inscrevem uma coisa que me faltou em muitos cursos que fiz ao longo dos anos.

Recursos audiovisuais? Apostilas? Pencas de imagens? Não. Sinceridade.

Não é questão de encher a minha bola. Mas  o fato é que eu sempre pensei nisso simplesmente porque teria facilitado muito a minha vida: se um dia der aula, vou falar a verdade. Que tipo de verdade? A verdade da minha experiência, reportar o processo do meu trabalho a quem pudesse interessar.

Desde o meu primeiro estágio, aos 17, trabalhei com jornalismo. E vi muita coisa. E aprendi muita coisa, aprendo todos os dias. Durante a faculdade, me impressionava a distância entre o que os professores diziam e a realidade das redações. Chegava a ser ridículo.

Por isso sempre repito minha ladainha: procurem saber da real. Estudem além do cercadinho da moda. Desafiem. Perguntem. Leiam loucamente. Estudem mais. Olhem. Treinem o olhar diariamente. Saiam da casinha. Não tenham medo. Aprendam com os erros. Não se deixem intimidar. Tenham a coragem de pensar.

Neste mês dei um curso de jornalismo de Moda no espaço Cult. Em apenas dois dias, é limitado o que podemos fazer em termos práticos. Mas fizemos bastante.

Os alunos, a maioria jovens, foram ótimos. Interessados, questionadores, esforçados, animados. Conversamos abertamente, trabalhamos juntos. No segundo dia, depois de uma aula introdutória de muita teoria, explicações detalhadas sobre as etapas da construção de um texto, e choques de realidade, eles escreveram juntos uma crítica de moda a partir de um desfile.

A primeira análise para boa parte deles, feita em grupo, após ver o desfile em vídeo, pesquisar referências via Google e discutir. É claro que a coisa toda puxa para o meu modo de ver as coisas, mas o que vale não é isso, e sim eles terem compreendido COMO chego a certas conclusões, os caminhos que percorro em termos de perguntas, pesquisas e conflitos. A partir daí, cada um poderá começar a trilhar seus caminhos.

É muito difícil fazer textos em grupo. Escrevendo direto no telão. Discutindo com os colegas as questões de conteúdo e de estilo. Em algumas horas, eles conseguiram fazer um trabalho muito digno. Melhor do que muita coisa que se pretende profissional.

São moços e moças que logo estarão ou que acabaram de entrar no mercado. Gente interessada em aprender os processos em vez de engolir pura e simplesmente as regras desse ou daquele veículo. É preciso trabalhar e no mundo capitalista não há como viver acima do mercado. As regras são sempre do dinheiro. Mas precisamos formar gente capaz de entender essas regras. É o primeiro passo para subvertê-las.

Aos meus alunos desta e de outras turmas, obrigada. Obrigada por me ouvirem, obrigada por serem jovens e quererem algo mais do que aquilo que é imposto como bom ou possível.

Vocês arrasam.

Amor,

VW